quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Perto do Coração Selvagem -  Clarice Lispector
A CONSTRUÇÃO DO SADISMO EM JOANA
OBJETIVO:
Tem o objetivo de demonstrar como se desenvolve o sadismo - representação do mal - em Joana, personagem protagonista do romance “Perto do Coração Selvagem” de Clarice Lispector.

CLARICE:
O     'Perto do coração selvagem‘ (1944) é o primeiro romance de Clarice Lispector, e desde logo percebeu-se o esforço em querer atingir as camadas mais profundas da consciência humana, num mergulho psicológico raras vezes tentado em nossa literatura.
O     Em sua obra interessa a repercussão que os fatos tem sobre a consciência das personagens. É uma literatura introspectiva, que sonda o interior do ser humano para revelar suas dúvidas e inquietações.  Importam as reflexões que nos levam para "perto do selvagem coração da vida"

SOBRE A OBRA:
A vida de Joana é contada desde a infância até a idade adulta através de uma fusão temporal entre o presente e o passado. A infância junto ao pai, a mudança para a casa da tia, a ida para o internato, a descoberta da puberdade, o professor ensinando-lhe a viver, o casamento com Otávio. Todos estes fatos passam pela narrativa, mas o que fica em primeiro plano é a geografia interior de Joana. Ela parece estar sempre em busca de uma revelação. Inquieta, analisa instante por instante, entrega-se àquilo que não compreende, sem receio de romper com tudo o que aprendeu e inaugurar-se numa nova vida. Ela se faz muitas perguntas, mas nunca encontra a resposta.
A citação mostra muito do perfil de Joana, demonstrando toda sua força e determinação:
Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, (...) eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará  fatal e inteiro!”. (Lispector, 1998, pg. 201)


A CONSTRUÇÃO DO SADISMO EM JOANA:
O     Sadismo: “ter prazer no sofrimento alheio.”. Em Perto do Coração Selvagem, o Sadismo é entendido como um processo de humanização, no qual quando se reconhece essa destruição por meio da maldade humaniza-se, ou seja: o mal faz parte da vida.
O     “A expressividade do mal sempre habitou a literatura. (...). Dos seus primórdios à modernidade, o mal sempre encontrou palavras que o representassem.” (ROSENBAUM, 2006).
O     Minha maldade vem do mau acomodamento da alma no corpo. Ela é apertada, falta-lhe espaço interior.” In: UM SOPRO DE VIDA. A expressão do mal é encontrada em varias outras obras de Clarice Lispector, a exemplo de “Um Sopro de Vida”.
O     A intencionalidade de Joana é a busca da liberdade e do coração selvagem da vida.

Obs.: Esse SELVAGEM é entendido como antagonismo com o mundo, ou seja oposição e incompatibilidade de ideias, etc.

O     O sadismo de Joana é apresentado logo no primeiro capítulo, que é apresentado sua infância, onde fala das galinhas, numa visão de ingenuidade e violência:
“Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sadia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha que as pessoas iam comer.(LISPECTOR, 1998, p. 13)
Esse olhar de joana que capta o mundo na sua dimensão destrutiva inexorável deixa entrever muito do perfil sádico da personagem. Ela é sensível a essas relações e tem prazer por tal visão.

O     Em Joana adulta essa visão se transforma em compaixão e solidariedade:
Quantas vezes não dera uma gorjeta exagerada ao garçom só porque se lembrara de que ele ia morrer e não o sabia.” (LISPECTOR, 1998, p. 111.)

           Mas como se configura essa mudança?

Através de elementos como:
O     Criança (brincadeira com as bonecas = MORTE): “Já vestira a boneca, já a despira, imaginara-a indo a uma festa onde brilhava entre todas as outras filhas. Um carro azul atravessava o corpo de Arlete, matava-a.”(págs.. 14-15)
Segundo ROSENBAUM, A morte da boneca é associada a uma “vingança” da mãe que morrera e que a deixou sozinha.

O     Frustrações de Joana (O Pai = a falta de afetividade):
“― Papai, que é que eu faço?
 ―Vá estudar.
 ― Já estudei.(...)
 ― Então não amole.” (p. 15)
 “Um ovinho, é isso, um ovinho vivo. O que vai ser de Joana?” (p. 17)

O GOSTO DO MAL:

O     Em “O dia de Joana”- primeiro capítulo a tratar da vida adulta – observamos as transformações às quais Joana passou, iniciando com: “A certeza de que dou para o mal” (p.18). E continuando:
“O que seria aquela sensação de força contida,  pronta para rebentar em violência, aquela sede de empregá-la de olhos fechados, inteira, com a segurança irrefletida de uma fera? (...). Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, (...). Sim, ela sentia dentro de si um animal perfeito. Repugnava-lhe deixar um dia esse animal solto.” (p.18)

OBS.: A certeza para o mal vem das concepções intelectuais que faz acerca da vida, eximindo-se de praticar a maldade. 

O     O “gosto do mal” é mais declarado e imaginado do que executado, embora sejam poucos, mas são densos os momentos  que o sadismo de Joana externaliza-se:
O     O roubo do livro: roubo este que a leva para o internato e recebe o nome de víbora pela tia:
“― Eu roubei o livro, não é isso? (...)
 ― Por que então...?
 ― Eu posso. (...)
 ― Sim, roubei porque quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal nenhum.” (págs. 49-50);

O     O livro na nuca do velho – que além de tudo mentiu dizendo que havia sido engano:
Encarava-o ereta e fria, os olhos abertos, claros. Olhou para a mesa, procurou um instante, pegou num livro pequeno e grosso. No momento em que ele punha a mão no trinco, recebeu-o na nuca.”(p. 92);

O     Quando diz a Lídia que terá o filho e só depois lhe devolverá Otávio: “Eu lhe darei Otávio, não agora, porém quando eu quiser. Eu terei um filho e depois lhe devolverei Otávio.” (p. 155);
O     E no capítulo “A víbora”, onde Joana mente para Otávio sobre a descoberta da gravidez de Lídia:
Não... Talvez eu tenha razão, (...). Talvez não se pense em nada disto antes de ter um filho. Acende-se uma lâmpada bem forte, tudo fica claro e seguro, toma-se chá todas as tardes, borda-se, sobretudo uma lâmpada mais clara do que esta. E o filho vive. Isso é bem verdade...tanto que você não temeu pela vida do filho de Lídia...  Nenhum músculo do rosto de Otávio se moveu, seus olhos não pestanejaram.” (p. 184) 

O FIM DE JOANA:

O     Ao final suspende o poder diabólico e se reconhece abandonada e só e reza para Deus:
Deus meu eu vos espero, deus vinde a mim, deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a desgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer.” (LISPECTOR, 1998, p.198). Um fato importante a ser visto é que Deus aparece na aparece na obra por letras minúsculas, pela incredibilidade de Joana em Deus. Tanto que depois se arrepende e diz:
Não, não, nenhum Deus, quero estar só.” (Idem, p.201)
Ao final existe a renovação: “e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo”, tocando o núcleo selvagem da vida na obscuridade satânica: “só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra.” (LISPECTOR, 1998, págs. 202-201).

REFERÊNCIAS:

LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Perto do coração selvagem. Disponível em: http://www.claricelispector.com.br/1943_Pertodocoracaoselvagem.aspx, acesso 24/11/2011.

ROSENBAUM, Yudith. Metamorfoses do mal: uma leitura de Clarice Lispector. 1ª ed. 1ª reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, 2006. (Ensaios de Cultura, 17)




TDA//H

Você conhece um problema muito sério que muitas vezes não é percebido?
Fique conhecendo um pouco é o Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade (TDA/H).

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDA/H)

ATENÇÃO E DÉFICIT DE ATENÇÃO     
·        ATENÇÃO: é um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e seleciona estímulos, estabelecendo relação entre eles.
·        Funciona como “fornecedor de energia” para as demais funções cognitivas.
·        O controle de atenção é algo variável para cada pessoa e, depende muito pouco da vontade consciente.
Obs.: Não há culpados pela falta de atenção.

TDA/H
O TDA/H é um transtorno neurobiológico, em que o córtex pré-frontal direito é um pouco menor nas pessoas com este transtorno,  que afeta principalmente  a parte do cérebro responsável  pelas funções executivas como: atenção, controle dos impulsos e das emoções, a memória, etc.
ž   Aparece normalmente até os 7 anos de idade e prolonga-se por toda a vida.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM), o TDAH pode ser empregado sob três formas:
ž  Subtipo predominantemente desatento;
ž  Subtipo predominantemente hiperativo/impulsivo;
ž  Subtipo combinado;

Desatenção
Segundo o DSM, os sintomas são:
ž  Não presta atenção a detalhes e comete erros por descuido;
ž  Tem dificuldades em manter a atenção nas atividades;
ž  Parece não escutar quando lhe dirigem a palavra;
ž  Não segue as instruções e falha em terminar seus trabalhos escolares e tarefas;
ž  Apresenta dificuldades em organizar tarefas e atividades;
ž  Não gosta de atividades que exijam esforço mental sustentado;
ž  Perde coisas com frequência e é esquecido;
ž  Distrai-se facilmente.

Em adultos pode apresentar os seguintes sintomas:
ž  A desorganização;
ž  A tendência a protelar e fazer tudo de ultima hora;
ž  A dificuldade para planejar em longo prazo;
ž  A falta de iniciativa e persistência;
ž  A falta de flexibilidade e automonitoramento.

O que o déficit de atenção tem a ver com problemas de aprendizado?
O déficit de atenção vai incidir na aprendizagem, pois o rendimento/ desempenho do aluno não será igual as outras crianças.
ž  EX: embora não tenha um déficit ou quadro de discalculia, o aluno cometerá erros por desatenção.

Diagnóstico do TDA/H
ž  É basicamente clínico, através de observação direta da criança e entrevista com a própria criança, pais e relato dos professores.
Obs.: desatenção não é uma doença é um sintoma.
ž  Outros fatores também podem causar desatenção, não especificamente o TDA, por isso deve-se ter muito cuidado na hora de diagnosticar uma pessoa.

Hiperatividade e Desatenção
Podem fazer parte do mesmo transtorno, mas cada uma forma um conjunto de sintomas diferentes. Há possibilidades do TDAH ser desmembrado em duas doenças. Uma com sintomas predominantes de desatenção e outras com sintomas de descontrole de impulsos e incapacidades de inibir comportamentos indesejáveis. 

Hiperatividade – principais sintomas:
Agitar as mãos ou pés com freqüência ou se remexer na cadeira; não consegue permanecer sentada em sala de aula ou em lugares que exijam tal comportamento; dificuldade em brincar de forma silenciosa; está a mil a todo vapor, correr e/ ou falar em demasia. 

Impulsividade (sintomas centrais)
ž  Tendência a responder antes das perguntas serem completadas;
ž  Dificuldades em esperar a sua vez;
ž  Tendência a interromper ou se meter em assuntos dos outros;
ž  Sensação de tédio, intolerância a rotina e irritabilidade.
ž  Déficits nas funções executivas.
Estes estão associados à boa memória; capacidade de traçar metas; ter boa organização; planejamento; iniciativa; persistência; controle de impulsos; automonitoramento; flexibilidade.

Desempenho Escolar.
Desatenção: mais problemas no aprendizado; diagnóstico tardio; apresentam mais doenças psiquiátricas “internas” – depressão e timidez patológica. 
Hiperativos: causam muita confusão em casa em sala de aula por isso tendem a ser tratados mais cedo; mais chances de apresentarem doenças psiquiátricas “externas” – transtorno de conduta, transtorno opositivo desafiante; tendem a ter melhor desempenho escolar do que os predominantemente desatentos. 

Tratamento.
O tratamento para o TDAH divide-se em quatro partes: 
   Uso de medicação;
  Manejo comportamental;
·             Acomodação escolar;
·             Reabilitação cognitiva.