quarta-feira, 8 de julho de 2015

O PRAGMATISMO DE JOHN DEWEY E SUA INFLUÊNCIA NO PENSAMENTO EDUCACIONAL BRASILEIRO DOS ANOS DE 1950/1960

Segundo Hessen (2000) o pragmatismo concebe o homem não como um ser pensante, mas como um ser prático, dotado de vontade, em que seu intelecto está a serviço de seu querer e de seu agir. “O intelecto não foi dado ao homem para investigar e conhecer, mas para que possa orientar-se na realidade. É dessa determinação prática de fins que o conhecimento humano retira seu sentido e valor” (HESSEN, 2000, p.31).

1      .      John Dewey
        John Dewey nasceu em 1859, em Burlington, uma pequena cidade agrícola do estado norte-americano de Vermont. Além de um grande pedagogo, foi também um grande filósofo, desenvolvendo a lição do pragmatismo. Ele é considerado uma das três figuras centrais do pragmatismo nos Estados Unidos, ao lado de Charles Sanders Pierce e William James.
     Para Dewey,
o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está voltado para a experiência. As ideias são hipóteses de ação e, como tal, são verdadeiras à medida que funcionam como orientadoras de ação. Portanto, têm valor instrumental para resolver os problemas colocados pela experiência. (ARANHA, 2006, p.261)

Na educação, Dewey acreditava que a aprendizagem seria mais significativa quando estimulasse a atividade dos alunos para que eles aprendessem fazendo, a construção do conhecimento a partir da experiência. Para ele, a educação deve oferecer condições para que a criança resolva por si própria os problemas. Considerando assim, a noção central da experiência, Dewey concluiu que “a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas a própria vida”. (ARANHA, 2006, p. 262).
Como pedagogo, Dewey acreditava que uma educação prática seria mais proveitosa para a sociedade. No Brasil, ele exerceu considerável influência filosófica, pedagógica e política sobre Anísio Teixeira, entre outros intelectuais brasileiros defensores das ideias pragmáticas.
Em 1959, por ocasião da comemoração do centenário do nascimento de Dewey, Anísio Teixeira, que nessa época estava a frente do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) e era o principal expoente do pragmatismo deweyano no Brasil, promoveu vários eventos como conferências, inclusive com participações internacionais, publicação de artigos e a reedição de obras de Dewey que foram traduzidas para o português, como: Como pensamos, Vida e educação, Reconstrução em filosofia, Educação e democracia, A criança e o currículo e Interesse e esforço.      

2.      O pragmatismo no pensamento educacional brasileiro dos anos de 1950/1960 e a influência de John Dewey

Na década de 50, o Brasil vivia o pós-guerra e, assim como outros países, sobretudo da América Latina, tinham o desafio de promover o desenvolvimento nacional. Este se daria nos âmbitos social, econômico, industrial e educacional.
No âmbito educacional, dois órgãos do MEC (Ministério da Educação e Cultura), o INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) e o ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) se destacaram pela defesa do pragmatismo e do desenvolvimentismo, respectivamente.
O ISEB numa linha desenvolvimentista defendeu a industrialização do país como forma de mudança para uma política de autonomia econômica e como requisito para a soberania nacional, na passagem de um Brasil agrário para um industrial. Teve como principal expoente Álvaro Vieira Pinto.
O INEP tinha a frente à figura de Anísio Teixeira, grande defensor do pragmatismo de John Dewey no Brasil. Anísio difundiu o ideário pragmatista através de publicações, conferências, cursos e das escolas experimentais.
O INEP e Anísio Teixeira encontraram tanto defensores quanto críticos a teoria pragmatista deweyana. Houve, neste período, muitos impasses e discussões a respeito da pedagogia de Dewey, mas no ambiente educacional brasileiro, a polêmica principal girou em torno dos defensores da transformação radical do sistema educacional brasileiro e da democratização pela escola pública e a iniciativa privada liderada pelo grupo católico, conservador.
Segundo Mendonça (2006) as questões mais polêmicas deste conflito eram as propostas de Anísio Teixeira fundamentadas no ideário deweyano, entre elas: a municipalização do ensino (descentralização administrativa); democratização da escola e condição de inserção da escola na “comunidade”; uma escola pública universal, gratuita e laica e, por isso, democrática; controle do Estado sobre a qualidade do ensino e da formação de professores.
A apropriação do ideário deweyano no Brasil se fazia numa tripla perspectiva: “método científico”, “modo de vida democrático” e o “experimentalismo”. As duas primeiras perspectivas desenvolveram-se através das tentativas de racionalização do sistema escolar por meio da concepção de planejamento, em que a aplicação do conhecimento científico se dava na solução dos problemas de ordem prática.
A concepção de planejamento educacional de Anísio Teixeira se desenvolveu aplicando o método científico, fazendo-se uma formulação com base no presente, nos índices de analfabetismo e desenvolvimento econômico, que concretizaria um ajuste às necessidades imediatas, e uma projeção futura. Seria um investimento em longo prazo e também o esclarecimento da população atingida. A partir deste planejamento educacional Anísio Teixeira elabora em 1962, a proposta do Plano Nacional de Educação, um conjunto de metas a serem alcançadas num prazo de oito anos.
Dentro deste contexto, fazia-se necessário que a escola se tornasse uma instituição organizada a produzir nova consciência, um instrumento de poder de ação sobre o próprio destino e, consequentemente, sobre o destino da nação. E que rompesse as dualidades do sistema escolar: escola do povo x escola da elite, e uma aprendizagem prática x educação livresca.
A nova escola proposta por Anísio Teixeira distanciava-se dos antigos padrões acadêmicos e
buscava seus próprios moldes na vida em comunidade, local onde os alunos viviam e aprendiam as artes e as relações da sociedade compósita e difícil da qual participavam. O pressuposto é que esse modelo de escola organizasse tendo em conta a diversidade e a diversificação. (MENDONÇA (et al), 2006, p. 108).

Desta forma, Anísio Teixeira idealiza que “a escola tem que se fazer prática e ativa, e não passiva e expositiva, formadora, e não formalista” (TEIXEIRA, 1953 apud MENDONÇA (et al), 2000, p. 108)

3.      As Escolas-Parque e o “experimentalismo” de John Dewey

Com base no pragmatismo de John Dewey, a partir da origem do que se denominou experimentalismo pedagógico, que consistia na aplicação de métodos experimentais aos programas de ensino e orientações curriculares para instituições criadas para este fim, as chamadas escolas experimentais.
A pioneira foi criada em 1950 pelo Anísio Teixeira quando era secretário de Educação do Estado da Bahia (1947-1950), o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, onde o ensino ministrado tinha como base o pragmatismo de Dewey. O Centro constituía-se em uma escola articulada nos setores “escola-classe” e “escola-parque”. Na “escola-classe”, os alunos recebiam instrução análoga à recebida em uma instituição primária regular, e na “escola-parque” era fornecido conteúdos complementares, como a formação de valores e preparação para o trabalho.
Um aspecto relevante nesta divisão é que esta não se caracteriza uma dualidade, já que os alunos frequentavam ambos os setores e os conteúdos da “escola-classe” também eram utilizados na “escola-parque”. Outro aspecto é o fato de que o pragmatismo seria simultaneamente método de ensino e diretriz de formação ética dos alunos. O Centro Educacional Carneiro Ribeiro, tanto para Anísio quanto para os educadores, representou “elemento central para o projeto de conduzir o país ao progresso, ao desenvolvimento econômico e ao modo de vida democrático pela via da educação escolar” (MENDONÇA (et al), 2006, p. 110).


REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e do Brasil. 3ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
MENDONÇA, Ana Waleska P. C. (et al). Pragmatismo e desenvolvimentismo no pensamento educacional brasileiro dos anos 1950/1960. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n31/a08v11n31.pdf. Acesso em: abril de 2015.


Resumo escrito por: Marcela Marinho de Oliveira em 2015
    








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