O PRAGMATISMO DE JOHN DEWEY E SUA INFLUÊNCIA NO PENSAMENTO EDUCACIONAL BRASILEIRO DOS ANOS DE 1950/1960
Segundo
Hessen (2000) o pragmatismo concebe o homem não como um ser pensante, mas como
um ser prático, dotado de vontade, em que seu intelecto está a serviço de seu
querer e de seu agir. “O intelecto não foi dado ao homem para investigar e
conhecer, mas para que possa orientar-se na realidade. É dessa determinação
prática de fins que o conhecimento humano retira seu sentido e valor” (HESSEN,
2000, p.31).
1 . John Dewey
1 . John Dewey
John Dewey nasceu em 1859, em Burlington, uma
pequena cidade agrícola do estado norte-americano de Vermont. Além de um grande
pedagogo, foi também um grande filósofo, desenvolvendo a lição do pragmatismo. Ele é considerado uma das três figuras centrais
do pragmatismo nos Estados Unidos, ao lado de Charles Sanders Pierce e William
James.
Para
Dewey,
o
conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está
voltado para a experiência. As ideias são hipóteses de ação e, como tal, são
verdadeiras à medida que funcionam como orientadoras de ação. Portanto, têm
valor instrumental para resolver os problemas colocados pela experiência. (ARANHA,
2006, p.261)
Na educação,
Dewey acreditava que a aprendizagem seria mais significativa quando estimulasse
a atividade dos alunos para que eles aprendessem fazendo, a construção do
conhecimento a partir da experiência. Para ele, a educação deve oferecer
condições para que a criança resolva por si própria os problemas. Considerando
assim, a noção central da experiência, Dewey concluiu que “a escola não pode
ser uma preparação para a vida, mas a própria vida”. (ARANHA, 2006, p. 262).
Como
pedagogo, Dewey acreditava que uma educação prática seria mais proveitosa para
a sociedade. No Brasil, ele exerceu considerável influência filosófica,
pedagógica e política sobre Anísio Teixeira, entre outros intelectuais
brasileiros defensores das ideias pragmáticas.
Em
1959, por ocasião da comemoração do centenário do nascimento de Dewey, Anísio Teixeira,
que nessa época estava a frente do INEP (Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos) e era o principal expoente do pragmatismo deweyano no Brasil,
promoveu vários eventos como conferências, inclusive com participações
internacionais, publicação de artigos e a reedição de obras de Dewey que foram
traduzidas para o português, como: Como
pensamos, Vida e educação, Reconstrução em filosofia, Educação e democracia, A criança e o currículo e Interesse e esforço.
2.
O
pragmatismo no pensamento educacional brasileiro dos anos de 1950/1960 e a
influência de John Dewey
Na
década de 50, o Brasil vivia o pós-guerra e, assim como outros países,
sobretudo da América Latina, tinham o desafio de promover o desenvolvimento
nacional. Este se daria nos âmbitos social, econômico, industrial e
educacional.
No
âmbito educacional, dois órgãos do MEC (Ministério da Educação e Cultura), o
INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) e o ISEB (Instituto Superior
de Estudos Brasileiros) se destacaram pela defesa do pragmatismo e do
desenvolvimentismo, respectivamente.
O
ISEB numa linha desenvolvimentista defendeu a industrialização do país como
forma de mudança para uma política de autonomia econômica e como requisito para
a soberania nacional, na passagem de um Brasil agrário para um industrial. Teve
como principal expoente Álvaro Vieira Pinto.
O
INEP tinha a frente à figura de Anísio Teixeira, grande defensor do pragmatismo
de John Dewey no Brasil. Anísio difundiu o ideário pragmatista através de
publicações, conferências, cursos e das escolas experimentais.
O
INEP e Anísio Teixeira encontraram tanto defensores quanto críticos a teoria
pragmatista deweyana. Houve, neste período, muitos impasses e discussões a
respeito da pedagogia de Dewey, mas no ambiente educacional brasileiro, a
polêmica principal girou em torno dos defensores da transformação radical do
sistema educacional brasileiro e da democratização pela escola pública e a
iniciativa privada liderada pelo grupo católico, conservador.
Segundo
Mendonça (2006) as questões mais polêmicas deste conflito eram as propostas de
Anísio Teixeira fundamentadas no ideário deweyano, entre elas: a
municipalização do ensino (descentralização administrativa); democratização da
escola e condição de inserção da escola na “comunidade”; uma escola pública
universal, gratuita e laica e, por isso, democrática; controle do Estado sobre
a qualidade do ensino e da formação de professores.
A
apropriação do ideário deweyano no Brasil se fazia numa tripla perspectiva:
“método científico”, “modo de vida democrático” e o “experimentalismo”. As duas
primeiras perspectivas desenvolveram-se através das tentativas de
racionalização do sistema escolar por meio da concepção de planejamento, em que
a aplicação do conhecimento científico se dava na solução dos problemas de
ordem prática.
A
concepção de planejamento educacional de Anísio Teixeira se desenvolveu
aplicando o método científico, fazendo-se uma formulação com base no presente,
nos índices de analfabetismo e desenvolvimento econômico, que concretizaria um
ajuste às necessidades imediatas, e uma projeção futura. Seria um investimento
em longo prazo e também o esclarecimento da população atingida. A partir deste
planejamento educacional Anísio Teixeira elabora em 1962, a proposta do Plano
Nacional de Educação, um conjunto de metas a serem alcançadas num prazo de oito
anos.
Dentro
deste contexto, fazia-se necessário que a escola se tornasse uma instituição
organizada a produzir nova consciência, um instrumento de poder de ação sobre o
próprio destino e, consequentemente, sobre o destino da nação. E que rompesse
as dualidades do sistema escolar: escola do povo x escola da elite, e uma aprendizagem prática x educação livresca.
A
nova escola proposta por Anísio Teixeira distanciava-se dos antigos padrões
acadêmicos e
buscava
seus próprios moldes na vida em comunidade, local onde os alunos viviam e
aprendiam as artes e as relações da sociedade compósita e difícil da qual
participavam. O pressuposto é que esse modelo de escola organizasse tendo em
conta a diversidade e a diversificação. (MENDONÇA (et al), 2006, p. 108).
Desta
forma, Anísio Teixeira idealiza que “a escola tem que se fazer prática e ativa,
e não passiva e expositiva, formadora, e não formalista” (TEIXEIRA, 1953 apud MENDONÇA (et al), 2000, p. 108)
3.
As
Escolas-Parque e o “experimentalismo” de John Dewey
Com
base no pragmatismo de John Dewey, a partir da origem do que se denominou
experimentalismo pedagógico, que consistia na aplicação de métodos
experimentais aos programas de ensino e orientações curriculares para
instituições criadas para este fim, as chamadas escolas experimentais.
A
pioneira foi criada em 1950 pelo Anísio Teixeira quando era secretário de
Educação do Estado da Bahia (1947-1950), o Centro Educacional Carneiro Ribeiro,
onde o ensino ministrado tinha como base o pragmatismo de Dewey. O Centro
constituía-se em uma escola articulada nos setores “escola-classe” e
“escola-parque”. Na “escola-classe”, os alunos recebiam instrução análoga à
recebida em uma instituição primária regular, e na “escola-parque” era
fornecido conteúdos complementares, como a formação de valores e preparação para
o trabalho.
Um
aspecto relevante nesta divisão é que esta não se caracteriza uma dualidade, já
que os alunos frequentavam ambos os setores e os conteúdos da “escola-classe”
também eram utilizados na “escola-parque”. Outro aspecto é o fato de que o
pragmatismo seria simultaneamente método de ensino e diretriz de formação ética
dos alunos. O Centro Educacional Carneiro Ribeiro, tanto para Anísio quanto
para os educadores, representou “elemento central para o projeto de conduzir o
país ao progresso, ao desenvolvimento econômico e ao modo de vida democrático
pela via da educação escolar” (MENDONÇA (et al), 2006, p. 110).
REFERÊNCIAS
ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda. História da
educação e da pedagogia: geral e do
Brasil. 3ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
HESSEN,
Johannes. Teoria do conhecimento.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
MENDONÇA,
Ana Waleska P. C. (et al). Pragmatismo e desenvolvimentismo no
pensamento educacional brasileiro dos anos 1950/1960. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n31/a08v11n31.pdf.
Acesso em: abril de 2015.
Resumo escrito por: Marcela Marinho de Oliveira em 2015
Resumo escrito por: Marcela Marinho de Oliveira em 2015
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