RIBEIRO, Guilherme. Ciber textos interactivos – Língua Portuguesa. Formação histórica da Língua portuguesa. Disponível em:<http://esjmlima.prof2000.pt/hist_evol_lingua/R_GRU-B.HTM
FORMAÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
v “A língua portuguesa está intimamente relacionada com os acontecimentos históricos que se sucederam na Península Ibérica. (...) Pouco se sabe acerca dos povos que teriam habitado o solo peninsular antes da chegada dos romanos (séc. III a. C.). De entre esses, faz-se referencia aos iberos, aos celtas, aos fenícios, aos gregos e aos cartaginenses.”
v “(...) os Romanos invadem a península, no século III antes de Cristo, com o intuito de travar a expansão dos Cartaginenses, dado que estes constituíam uma serie ameaça ao domínio do mundo mediterrâneo pretendido por Roma. Vencidos os Cartaginenses os Romanos acabaram por dominar toda a Península, tanto no aspecto politico-militar quanto no aspecto cultural, nomeadamente no que respeita à língua.”
v “Já o povo peninsular se encontrava totalmente romanizado, quando, no século V da era cristã, a Península voltara a ser invadida e assolada, desta vez pelos povos bárbaros germanos (...) que (...) apesar de vencedores, acabassem porá adotar a civilização e a língua latinas. Mas isto não impediu a dissolução da unidade politica do império, (...) baseados no pressuposto de que a instrução fragilizava o espirito bélico dos soldados, decretaram o encerramento das escolas.”
v “À queda e fragmentação do Império Romano sucede-se a supressão dos elementos unificadores do idioma. Isto é, o Latim Vulgar, já substancialmente modificado pela ação do substrato linguístico peninsular, perde progressivamente terreno e desenvolve-se diferentemente em cada região. (...) o Latim Vulgar se dialetou, sobretudo devido à invasão bárbaro-germânica.”
v “o processo de expulsão do povo árabe da Península foi longo e penoso. (...), Ganhou particular importância a batalha de Ourique, em 1139, quer pela vitória alcançada sobre os árabes, quer também pelo fato de os soldados, antes de iniciar o combate, terem aclamado D. Afonso de rei de Portugal.”
v “(...) há de considerar na evolução da língua portuguesa três fases: (...) Fase Pré-Histórica: começa com as origens da língua e vai até ao século IX. (...) encontramos somente documentos em Latim Vulgar. (...) Fase proto-histórica: estende-se do século IX ao século XIII. (...) a língua já era falada mas não escrita. (...) Fase Histórica: inicia-se no século XII e estende-se até aos nossos dias. Esta fase compreende dois períodos:”
v “Período do Português Arcaico: vai do século XII ao século XV. O primeiro texto inteiramente redigido em português data do século XII. Pensou-se durante muito tempo tratar-se da (...) ‘Cantiga da Ribeirinha’. (...). Porém, o tempo veio provar que o autor da composição, Paio Soares de Taveirós, se situa no segundo terço do século XIII. (...) Para já, tudo parece indicar que a Noticia do Torto( antes de 1211?) e o Testamento de Afonso II(1214) serão os antigos documentos não literários escritos em Português. Quanto às composições de caráter literário, pensa-se que João Soares de Paiva, a quem se deve uma cantiga de maldizer, (...) de 1196, terá sido o primeiro poeta a escrever em idioma português.”
v “Em 1290, D. Dinis, o rei ‘Trovador’ torna obrigatório o uso da língua portuguesa e funda, em Coimbra, a primeira Universidade.”
v “Período do Português Moderno: do século XVI até aos nossos dias. (...) surgem as primeiras tentativas de gramaticalização da língua. Fernando de Oliveira edita, em 1536, a primeira Gramatica da língua portuguesa, intitulada ‘Gramatica da Lingoagem Portugueza’. Em 1540, João de Barros escreve, com o mesmo titulo a segunda gramatica da língua portuguesa.”
v “(...) a partir do século V, motivado pela invasão dos povos bárbaros a unidade linguística desfez-se, dando origem a diferentes falares, os romances, que correspondiam à contaminação do latim vulgar por diversos substratos e superstratos. (...). São dez as línguas neolatinas: PORTUGUÊS (...); ESPANHOL (...); ITALIANO (...); FRANCÊS (...); ROMENO (...); RÉTICO (...); GALEGO (...); PROVENÇAL (...); CATALÃO (...); SARDO (...); DALMÁTICO (...)”.
TEYSSIER, 2007.
DO LATIM AOS PRIMEIROS TEXTOS EM GALEGO-PORTUGUÊS(SÉC. XIII)
v “Os primeiros textos escritos em português surgem no século XIII. Nessa época, o português não se distingue do galego, falado na província (hoje espanhola) da Galícia.”
v “Os romanos desembarcaram na Península no ano 218 a . C. (...). A Península é inicialmente dividida em duas províncias (...), a Hispânia Citerior(...) e a Hispânia Ulterior(...). No ano 27 a . C., Augusto divide a Hispânia Ulterior em duas províncias: a Lusitânia,(...) e a Béltica. (...). Nesse território, assim definido, a romanização fez-se de maneira mais rápida e completa no Sul do que no Norte.”
v “Em 409, invasores germânicos — vândalos, suevos e alanos— afluem ao sul dos Pireneus, seguidos, mas tarde, pelos visigodos. Assim começa um dos períodos mais obscuros da história peninsular, que terminara em 711, com a invasão mulçumana.(...), a contribuição dos suevos e dos visigodos foi mínima. Tiveram um papel particularmente negativo: com eles a unidade romana rompe-se definitivamente e as forças centrifugas vão preponderar sobre as de coesão. Se o latim escrito se mantém como a única língua de cultura, o latim falado evolui rapidamente e diversifica-se.”
v “Em 711 os mulçumanos invadem e em pouco tempo conquistam a Península Ibérica, (...). Partindo do norte, a reconquista cristã vai gradativamente expulsando os mouros para o sul. É durante esta Reconquista que nascerá, no século XII, o reino independente de Portugal.”
v “A invasão mulçumana e a Reconquista são acontecimentos determinantes na formação de três línguas peninsulares— o galego-português a oeste, o castelhano no centro e o catalão a leste. (...). Foi (...), ao norte do Douro (...) que se formou a língua galego-portuguesa, cujos primeiros textos escritos aparecem no século XIII.”
v “A Reconquista provocou importantes movimentos de populações. (...). Foi assim que o galego-português recobriu, pouco a pouco, toda a parte central e meridional do território português. (...), esta língua galego-portuguesa do Norte vai sofrer uma evolução gradativa e transformar-se no português.”
v “Até o fim do período imperial, o latim falado no Oeste da Península Ibérica conhece as evoluções gerais do mundo romano:
1) O acento tônico — generaliza-se um acento de intensidade, cuja posição é determinada de maneira automática. (...), a silaba que leva o acento é definida pelas seguintes regras:
a) Palavras de duas silabas: o acento recai na primeira. Ex. séptem>port. sete, (...)
b) Palavras de três silabas ou mais: o acento recai na penúltima silaba se esta for longa. Ex. amicum>port. amigo, (...)
2) As vogais: perda das oposições de quantidade — O latim clássico possuía cinco timbres vocálicos, havendo uma vogal breve e uma longa para cada timbre, ou seja, um total de dez fonemas. (...). O latim imperial perdeu as oposições de quantidade, mas conservou as de timbre resultantes dos variados graus de abertura. (...)
3) As consoantes: a palatalização. (...). Nos grupos escritos ci, ce e gi, ge, as consoantes c e g (...) eram oclusivas velares. Mas em latim imperial o ponto de articulação destas consoantes aproximou-se (...) da zona palatal, levando à pronuncia [kyi], [kye] e [gyi], [gye].(...): [kyi], [kye] passaram a (...) [tsi], tse]; ex.: centum> port. cento. (...). para os grupos gi, ge (...) será inicialmente um yod puro e simples [y] que desaparece em posição intervocálica; ex.:regina > port. rainha.(...). Mas em posição inicial, este yod passa a [dz]; ex.:gente( donde o g representa na Idade Media [dz]).(...). Em várias outras palavras um i e um e não tônicos, seguidos de uma vogal, eram pronunciados yod em latim imperial; ex.: pretium, platea, hodie, (...). Resultaram dai os grupos fonéticos [ty], [dy], ly] e [ny] que se palatalizaram-se em [tsy] e [dsy], [lh] e [nh].”
v “Os três séculos passados (...) (409) e (...) (711). (...). Vê-se acelerar a deriva que transformará o latim imperial em proto-romance, e aparecerem certas fronteiras linguísticas. Uma destas fronteiras é a que vai separar os falares ibéricos ocidentais, donde sairá o galego-português, dos falares do Centro da Península, donde sairão o leonês e o castelhano.”
v “È durante o período que se segue à invasão mulçumana (711) que vão aparecer outras inovações específicas de que resultará o isolamento dos falares do Noroeste da Península, não apenas dos seus vizinhos do Leste, leonês e castelhano, mas também dos dialetos moçárabes que se desenvolvem no Sul. Surgirá, assim, nos séculos IX a XII, o galego-português.”
v “Três inovações do galego-português devem ser assinaladas:
1) Grupos iniciais pl-, cl- e fl- > ch ([ts] — Estes grupos iniciais sofreram,(...), uma palatalização do l, (...): a consoante inicial seguida de l palatal deu origem à africada [ts], que foi transcrita em galego-português por ch. (...), os grupos iniciais pl-, cl- e fl- deram em galego-português pr-, cr- e fr-; ex.: placere > prazer, clavu > cravo, flaccu > fraco, evolução idêntica à de bl- > br-; ex.: blandu > brando.
2) Queda do –l- intervocálico — (...) contribuiu para criar em galego-português vários grupos de vogais em hiato. Ex.: salire > sai, palatiu > paaço, (...). É a queda do -l- intervocálico que explica a forma que possuem no plural as palavras terminadas em –l- no singular: sol, plural soes, hoje sóis.
3) Queda de –n- intervocálico — (...) todos os n intervocálicos desapareceram depois de terem nasaliza do a vogal precedente; ex.: vinu > vio, manu > mao.”
v “Em matéria de morfologia e sintaxe, a evolução que se processa do latim ao galego-português é semelhante à que leva às outras línguas românicas, em particular ao castelhano. A declinação nominal simplifica-se e acaba por desaparecer (...). As relações que o latim exprimia pelas desinências casuais são agora expressas por preposições ou pela colocação da palavra na frase. (...). O sistema dos tempos e dos modos altera-se e multiplicam-se as formas perifrásticas. (...). Um artigo definido forma-se com base no demonstrativo ille.”
v “O velho fundo do vocabulário latino transmitido ao galego-português e ao português moderno — Ex.: pater, mater, filius, manus, (...) — compreende palavras de aparência mais clássica do que as suas correspondentes francesas ou italianas; ex.: comedere (> port. comer) (...). Mas este vocabulário não deixou de ser enriquecido na língua vulgar da época imperial por termos populares: bellus (> port. belo) em vez de pulcher (...). A este fundo latino vieram acrescentar-se palavras novas, a começar por empréstimos às línguas dos povos que habitavam a Península quando da chegada dos romanos (ex.: barro, manteiga, sapo, esquerdo, etc.), (...). Mas os empréstimos realmente importantes que se fizeram entre a época romana e os primeiros textos escritos vêm do germânico e do árabe.”
v “Como todas as línguas românicas, o português possui um vocabulário complexo: às palavras que se mantiveram sempre vivas desde a época latina, e que constituem o ‘patrimônio hereditário’ da língua, vieram juntar-se palavras eruditas, criadas, em todas as épocas, com base no latim e no grego (ex.: internacional, automóvel e telefone em português contemporâneo).”
Muito bom, obrigada!
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